O objetivo de toda história é transformar.
As histórias têm o poder para transformar o mundo. E não há outra maneira mais eficiente de se fazer isso senão contando histórias. Ainda duvida disso? Eu posso provar! Para isso eu recorro ao exemplo de Victor Hugo, o grande gênio da língua francesa que, engajado no combate à pobreza, foi até a Assembleia Nacional Legislativa em 9 de julho de 1849 e cheio de entusiasmo proferiu o famoso discurso “Destruir a miséria”[1] visando comover as autoridades francesas para que trabalhassem para mudar a sorte dos mais desfavorecidos.
“Não sou, senhores, desses que acreditam que se possa acabar com o sofrimento no mundo; o sofrimento é uma lei divina. Mas sou desses que pensam e afirmam que se pode destruir a miséria.”
A causa de Victor Hugo era clara: destruir por completo a miséria. “… não digo diminuir, limitar, circunscrever, digo destruir. (…) Destruir a miséria! Sim, é possível! Legisladores e governantes devem almejá-lo constantemente; pois, em tal matéria, enquanto todo o possível não é feito, o dever não é cumprido.”
Tratava-se de um discurso inflamado e eloqüente, mas que pouco tocou o coração dos deputados. No final, a única coisa que ele ganhou com o seu esforço foram aplausos de uma plateia indiferente a mensagem. E assim, nada no mundo mudou.
Uma década depois, no entanto, ele novamente voltou a denunciar os males da miséria. Mas ao invés de um discurso no parlamento, desta vez Victor Hugo escreveu um livro, um clássico da literatura mundial chamado “Os Miseráveis” [2]. Podemos dizer que era apenas mais uma história. Mas essa história mudou o mundo.
Victor Hugo teve êxito por dois motivos. Primeiro porque entendeu que somente uma boa história poderia tocar profundamente as pessoas, dividindo com o público o ponto de vista das suas personagens, de modo a quebrar a falta de empatia com a realidade dos miseráveis. E isso mobilizou gente para a sua causa.
E segundo, e mais importante, mostrando que aquele problema não era só de um grupo ou classe, era uma problema que demandava uma resposta de toda a humanidade. Ao contrário do que tinha feito uma década antes, achando que a pobreza era um problema a ser resolvido pelo governo francês, agora ele via que era preciso mobilizar toda a sociedade para esse propósito, despertando nela o protagonismo para o combate a pobreza. O resto é história.
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Um mundo cheio de coadjuvantes é um lugar muito chato.
Infelizmente, hoje as pessoas desejam sossego. O final feliz para a maioria de nós é ganhar na loteria, ficar milionário sem esforço e viver uma vida sem dificuldades, de preferência sem contratempos e felizes para sempre. E olha que absurdo, tentamos ao máximo abolir o sofrimento de nossas vidas, ficando acomodados no conforto dos passatempos diários. Mas passatempos só passam o tempo. No final da vida, que história você terá para contar?
A humanidade se contentou com o papel de coadjuvante. Delegam à escola a educação dos filhos, ao chefe a ascensão na carreira, ao cônjuge o sucesso do casamento, ao governo resolver todos os problemas do país e aos ativistas a salvarem o mundo. Há quem delegue até a salvação da própria alma. Pessoas assim têm uma história bem sem graça, dessas que ninguém compra.
Afinal, quem vai se interessar por uma história monótona, sem confrontos, sem correr riscos, sem lutas, lágrimas e superação? Sabe como você identifica o protagonista de uma história? É aquele que se transforma ao longo do enredo. Se você não quer sair da zona de conforto e aceitar o chamado à aventura, já está condenado ao papel de coadjuvante de alguém.
Não roube a cena dos outros! Seja protagonista da sua história.
Não se engane: é o vilão que tenta roubar a cena do herói. Se você quer ser protagonista, então abrace a sua jornada.
Muitos desistem do protagonismo porque isso demanda fazer escolhas, posicionar-se. Quando você se posiciona de um jeito (tese) perante o mundo obviamente terá que lidar com quem discorda de você (antítese), seja por meio de adversários, concorrentes, haters ou um nêmesis pessoal. É aqui que muitos se escondem, fugindo das críticas, confrontos e provocações. O que é outro absurdo!
As pessoas têm dificuldade de lidar com ataques, é verdade, estando na maioria das vezes inseguras sobre os caminhos que escolhem e preocupadas em como serão julgadas. Mas isso não é motivo para ter medo. O conflito é parte do caminho! É exatamente na jornada que a vida nos molda. Ninguém nasce pronto.
Além do mais, a maioria dos vilões que você acha que vai encontrar por aí são apenas coadjuvantes cheio de opiniões e sem os requisitos mínimos para ser um antagonista.
Em resumo, o mais importante na sua jornada não é vencer. É a transformação (síntese)! É o que você se torna após o confronto. Tudo o que você soma ao que você era, as conquistas ao longo do caminho. Também aquilo que você perde, o fracasso, o preço que você paga para se tornar algo maior! É somente aí que você se torna o protagonista. É aí que você passa a ter uma história para compartilhar. Então… Qual a sua história?
Como Dante reescreveu a sua história para ser protagonista e mudou o mundo.
Dante Alighieri viveu no final da Idade Média em Florença e perdeu a maioria das suas batalhas pessoais. Não casou com Beatriz o seu grande amor, foi derrotado pelos seus inimigos políticos e ainda acabou exilado da sua cidade, perambulando pela Itália o resto da vida às custas da piedade alheia e sem nunca retornar pra casa.
Quem lembraria de um cara com uma história assim?
Acontece que a catarse (purificação dos sentidos) [3] é o propósito do storytelling. Quando uma história cumpre seu objetivo catártico, o homem se transforma. Dante viu Santo Agostinho fazer isso na obra “Confissões” [4], a primeira autobiografia da humanidade. Nela o santo se confrontava com a própria história, tanto com as coisas boas quantos com as ruins, para dali sair melhor e maior.
Dante também reescreve sua história ao construir um dos maiores monumentos da arte humana, a Divina Comédia. O poeta florentino se lança em uma jornada ficcional através do inferno, do purgatório e do céu para confrontar os grandes nomes de sua época, seus inimigos e amigos, os mitos e os santos, os autores do passado, seus heróis pessoais e a sua eterna amada Beatriz. Ao fim da jornada, Dante transforma sua tragédia pessoal em uma comédia, uma história com final feliz.
Foi Dante um dos pioneiros no uso de um dos maiores recursos do storytelling: se reinventar como personagem. A maioria das pessoas não conseguem mudar de vida porque estão sempre a projetar no futuro o que elas foram no passado. Só que se você não muda, nada muda.
O mais engraçado é que quando perguntamos para alguém sobre o que mudaria na sua vida a resposta acaba sempre remetendo a um evento do passado, a algo que a pessoa desejava ter feito de forma diferente enquanto o certo seria responder o que ela mudaria hoje.
Todos nós perdemos um tempo incontável de nossas vidas imaginando como seria viajar no tempo e mudar o passado ao invés de virar os olhos para o futuro e fazer algo diferente. E a maioria de nós vive até o último dia sem mudar essa perspectiva.
Uma boa lição sobre isso esta no excelente filme “Questão de Tempo” de Richard Curtis. Na história, o protagonista descobre que os homens da sua família têm o improvável poder de voltar no tempo. E o que parece ser uma dádiva no início, acaba apenas complicando a vida. Até que o seu pai o ensina um importante segredo, como vemos na cena a seguir:
A graça de toda história está nas suas imperfeições, nas pequenas coisas que as tornam memoráveis. Então viva a vida, mas de um novo ponto de vista. Afinal, se você quer chegar a algum lugar é preciso se tornar o herói que você almeja. Enxergá-lo bem como um personagem para a partir daí começar a escrever uma nova história para você.
Quando você protagoniza uma boa história, as pessoas se interessam pelo seu propósito e se mobilizam na sua causa. História autênticas repercutem rápido, chamando atenção, encantando e contagiando as pessoas ao seu redor. Acredite, as pessoas se engajam rápido em um bom enredo!
E o que a “Conta Outra, Jack” tem a ver com isso?
Quando aprendemos a contar histórias somos capazes de mudar o mundo. Por isso queremos ensinar as pessoas e as empresas a serem protagonistas de suas vidas por meio do storytelling. Desejamos que elas recuperem o controle suas vidas, seja numa aventura, numa comédia romântica, em um drama, fantasia ou ação.
Qual é a história que você vai deixar pro mundo?
Aqui é o lugar para pessoas apaixonadas por histórias e narrativas. Que amam cinema, literatura, quadrinhos, teatro, música, poesia e jogos. Também para os profissionais de conteúdo, roteiristas, mestres de RPG, palestrantes, etc. Ou seja, para todo mundo que tem algo a dizer e quer dominar o storytelling para ser ouvido!
O nome Jack é inspirado no Valete de Copas (Jack of Hearts em inglês) do baralho. A carta é associada às artes e às histórias, por isso é o único personagem dos quatro naipes empunhando uma pena, simbolizando a escrita.
Tenha a Jack como uma carta na manga para o seu projeto de storytelling.
Venha fazer história com a gente!
[1] Détruire la misère (destruir a miséria), traduzido por Mayquel Eleuthério em Notas sobre leituras
[2] Os Miseráveis (Les Miserábles) de Victor Hugo.
[3] Catarse: no estudo da estética, a catarse funciona como uma sensação de “purificação dos sentidos” que o o público alcança quando entra em contato com alguma obra artística.
[4] Confissões, livro de Santo Agostinho, considerado a primeira autobiografia da história.
Quem é o autor na fila do pão? Um apaixonado por histórias! Com 6 anos já vendia histórias em quadrinhos para a avó, antes mesmo de terminar a alfabetização. Aos 10 anos já tinha trocado Monteiro Lobato por Homero, Alexandre Dumas e Jonathan Swift. E por culpa deles, desde os meus 12 anos ele lê e escreve todos os dias.
E tem mais! Graduado como redator publicitário, com experiência com redação, roteiro, marketing de conteúdo, gamificação, além de ter desenvolvido projetos de storytelling para empresas, sempre estudando sem parar sobre o assunto.
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